Pensamento do Dia

Livro- SUBLIMANDO EMOÇÕES

INTRODUÇÃO

Somos espíritos milenares. Sabemos que já cometemos erros e acertos, e que isso é natural na caminhada que fazemos rumo a perfeição. Assim vemos, também, que somos comprometidos com a lei Divina.
Não somos por isso castigados. Mas, somos impulsionados a buscar experiências com bases nos próprios erros. Isso nos trazem conseqüências que muitas vezes nos fazem sofrer. Por isso, nos alertam e nos ensinam a aproveitar tais experiências. Com elas, apesar dos sofrimentos, nos reforçamos e crescemos espiritualmente.
Os personagens que aparecem neste romance, traziam grandes comprometimentos entre si, de outras datas. Precisavam de muitos reajustes. A vida na terra os reuniu para que, entre vitórias e fracassos, acertos e erros, pudessem buscar novas experiências.
A nossa caminhada terrena é assim: Expiamos os erros e com isso aprendemos, depois somos testados naquilo que aprendemos. Se superarmos avançamos na evolução.
Se fracassarmos nos testes é porque ainda não adquirimos capacidade. Temos algo ainda à aprender nesse sentido.
Mais tarde já fortalecidos, em momento oportuno, seremos novamente testados, e assim sucessivamente, até conseguirmos aprimorar a ponto de superar. É assim que conquistamos gradativamente um degrausinho a mais na grande escalada que nos leva a perfeição.

A autora

CAPITULO 1

A nossa história começa assim:
Numa pequena cidade, ha alguns quilômetros da capital francesa, no fim do século XiX, vivia um casal de médicos, recém casados, bem jovens ainda, Jamile e Ricardo de Ribeneau. Estudaram juntos e eram apaixonados pela profissão que exerciam.
Foi muito difícil para Jamile, conseguir optar pela carreira médica. Os preconceitos contra a mulher naquela época eram muitos. A mulher tinha os direitos reduzidos. Seus limites não iam além de cuidar do marido e dos filhos. A mulher só devia se preocupar em aprender aquilo podia ser praticado dentro do próprio lar. Tudo o que fazia além disso era considerado ousadia.
Jamile tinha uma visão ampla, acima de qualquer preconceito. Era determinada, por isso, insistiu, lutou e conseguiu.
É claro que tudo estava dentro de suas necessidades espirituais e faziam parte da sua programação de vida.
Foram longas e amorosas as recomendações dos pais nesse sentido.
---Minha filha, você terá que enfrentar muitas dificuldades. O mudo estará contra você. Até para se casar será difícil. Nenhum homem vai querer desposar uma mulher considerada ousada pela sociedade. Você vai se arrepender por ter feito essa escolha.Procure reconsiderar. Pensar mais um pouco.
---Nada me amedronta, meus pais. Tudo evoluí e as mentalidades também. Mais algum tempo e essas idéias primitivas serão superadas pela razão. Não posso, renunciar aos meus anseios, presa a preconceitos que terão que ser vencidos.
O casal temia, mas, ao mesmo tempo se orgulhavam da vivacidade e da inteligência da filha. Suas idéias eram avançadas para a época, mas, eram sábias e sadias.
Não foi fácil enfrentar, professores, colegas e mesmo a sociedade. Mas, Jamile era, apesar de dócil e delicada, muito altiva, enérgica quando se fazia necessário. Além do que, era muito persistente, por isso conseguiu vencer todas as barreiras.
A moça nasceu e foi criada em Paris. Com muito carinho e regalias. Era filha única. Os pais tinham consideráveis recursos financeiros, apesar de pouco destaque na sociedade.
Eram pessoas simples e reservadas. Isso ajudou Jamile nas resoluções,pois, os pais não deviam grandes satisfações à sociedade
Assim, superando a todos os obstáculos e com inúmeras dificuldades Jamile ingressou na Universidade de Paris.

Capitulo 2

Na Universidade, Jamile de Sanson e Ricardo de Ribeneau se conheceram.
Ricardo era um moço simpático, muito educado e gentil. também muito dedicado aos estudos da medicina. Sua família morava numa província um tanto distante da capital, numa rica propriedade que Jamile só veio a conhecer depois de casados.
O moço se mostrou amigo e respeitador. Não possuía beleza física, era um tanto franzino, seu rosto trazia traços fortes, marcantes e indagadores. Era muito inteligente, avançado na maneira de pensar, muito observador, e ao mesmo tempo muito brincalhão.
Achava natural e aplaudia as atitudes de jovem resoluta e determinada. Isso os aproximou.
Em pouco tempo, os dois passaram a se entender muito bem. Passavam grande parte do tempo livre, trocando idéias, fazendo planos sobre o trabalho que se dedicariam, após terminarem a faculdade.
Tinham as mesmas idéias e pretendiam se dedicar aos estudos da mente e do comportamento humano. Esse era o assunto que mais os impressionava, embora fosse um assunto ainda um tanto obscuro, sem muito valor e sem crédito no meio profissional.
Para os dois o que importava era o conhecimento, e as possibilidades de descobertas para o futuro. Essa matéria era realmente fascinante para os dois jovens.
Um dia Jamile, dirigindo-se ao moço, disse: quero convida-lo para conhecer meus pais, acho que você vai gostar deles, são pessoas atualizadas, por isso, compreendem e aprovam as nossas idéias.
---Claro que quero conhecê-los, terei um grande prazer nisso.
Assim combinaram e num fim de semana, Ricardo de Ribeneau, foi apresentado ao casal: Senhora Suzi e Senhor Jorge de Sanson.
O casal recebeu o moço com satisfação e gentileza embora um tanto preocupados, pois, ignoravam sua opinião e intenções para com a filha.
---Permita que lhes diga que a sua filha é uma jovem encantadora, com idéias brilhantes. Promete muito sucesso na carreia que abraçou disse Ricardo.
--- Esperamos que ela não venha a se arrepender, retrucou o Senhor Jorge de Sanson, mostrando preocupação. E assim, trocaram palavras e gestos de gentileza.
Logo as visitas passaram a ser comuns, nos fins de semanas. O moço era recebido sempre com carinho.
Na verdade é que a afinidade era grande. Em pouco tempo, Ricardo passou a ser tratado como um filho pelo casal.
Ricardo representava o filho que eles não tiveram. No nascimento de Jamile, a senhora Suzi teve algumas complicações que a impediram de conceber novamente. O casal nunca escondeu de ninguém o grande desejo de ter um casal de fihos.
O moço encaixou-se direitinho nos corações do casal.
A senhora Suzi tocou-se com a bondade e as qualidades do moço. Com isso passou a depositar-lhe muita confiança.
Com as preocupações normais de mãe dedicada, não cansava de recomendar ao moço que cuidasse de sua filha, pois, para ela a filha não passava de uma menina frágil com idéias de mulher adulta.
---Não temas senhora ! sua filha é muito ajuizada e esperta. Veja lá se não é ela que precisa cuidar de mim.
Assim se despedia sempre alegremente, prometendo voltar em breve.
---Como é bom saber que nossa filha tem uma companhia tão sensata, dizia o pai de Jamile.
---Certamente! Agradeço a Deus todos os dias pela presença desse moço na vida de nossa filha. Fico bem mais tranqüila, dizia a senhora Suzi.

Capitulo III

A afinidade entre Jamile e Ricardo era muito grande. Por isso, não foi necessário muito tempo para descobrir que se amavam e iniciarem o romance amoroso.
--- Quando vamos passar a noticia a seus pais, e, formalizar o pedido de casamento? perguntava Ricardo.
--- Jamile com o coração transbordando de alegria e felicidade, por sentir que poderia concretizar aquele amor, que algum tempo vinha alimentando em seu coração, dizia e repetia:
--- Você não imagina como me sinto honrada e feliz com isso.
Foi num clima de festas que o casal recebeu a notícia. Porém agora as preocupações aumentaram.
O que poderia acontecer a um casalzinho que se amavam vivendo em liberdade como eles viviam. Uma liberdade que nem podia ser vigiada, pensava o casal.
Mas no fundo, alguma coisa lhes dava a segurança de que a filha era ajuizada e Ricardo era um jovem íntegro.
---Vamos confiar neles e em Deus acima de tudo, diziam.
Realmente os dois eram sensatos maduros, seus pensamentos passavam longe de fazer qualquer coisa que pudesse desmoralizá-los e causar aborrecimentos aos pais.
Sentiam que haviam nascidos um para o outro, mas tinham planos para o futuro. Nada poderia atrapalhar.
Dentro de algumas semanas Ricardo comunicou aos pais e numa cerimônia simples o noivado foi oficializado.
A família de Ricardo apesar de acharem a moça um tanto atrevida pelas suas resoluções avançadas e um tanto fora dos costumes da época, não se opuseram ao casamento.
Ficou combinado então, atendendo às resoluções do jovem casal, que assim, que terminassem a faculdade, se casariam e iriam trabalhar juntos. Isso realmente aconteceu.
Uns meses depois de formados estavam se casando.
Como planejaram, procuraram uma cidade pequenina e acolhedora.
Com recursos vindo dos pais de Ricardo, compraram uma casa rodeada de jardins e um pequeno pomar.
A casa era simples, mas feita e cuidada com muito bom gosto. Era um lugar apropriado para um casal que se ama e sonha poder viver seu sonho de amor.
O lar foi montado com ilusão e carinho. Para os trabalhos caseiros contrataram uma serviçal de nome Simone.
A senhora era meiga e tinha muitas qualidades.
Na própria residência montaram o consultório e o local de estudos e pesquisas, como era de costume na época.
A satisfação era imensa. Pois ali realizariam todos os seus sonhos de amor e trabalho. O local era um verdadeiro ninho de amor.
Desejavam se aprofundar em pesquisas, fazer novas descobertas e ali era o local ideal.
Num clima de amor, respeito e responsabilidade, iniciaram a caminhada para o sucesso.
As idéias, os planos, fluíam em suas mentes. Eram esforçados e isso prometia que se tornariam bons profissionais.
Pouco a pouco foram conquistando vários clientes não só da cidadezinha, mas, também das aldeias vizinhas.
Assim, logo puderam se libertar dos recursos financeiros que lhes eram fornecidos mensalmente pelos pais.
Jamile não tinha grandes dotes financeiros, terminou os estudos já com algumas preocupações.
No período final de seus estudos, seus pais foram vítimas de um comerciante desonesto, e assim perderam boa parte da fortuna que possuíam.
Morreram pouco mais de um ano após o casamento.
Jamile apesar de ser muito independente, amava e se preocupava muito com eles. Desdobrou-se nos cuidados e assistência aos mesmos. Com isso, alguns recursos financeiros que ainda lhes restavam foram gastos no tratamento e no conforto que fez questão de lhes dar durante a doença e a morte dos dois.
Assim que o senhor Jorge de Sanson morreu, a senhora Suzi também adoeceu e logo em seguida também morreu.
Jamile ficou órfã de pai e mãe, em apenas seis meses. Isso a abateu muito pelo sofrimento que lhe causou, mas, com o apoio de Ricardo conseguiu, pouco a pouco superar tudo.
Ricardo pertencia a uma família abastada, mas, distantes e desligados entre sí. Cada um preocupava-se apenas com os próprios interesses.
Por isso o casal vivia só. Um para o outro. Dedicavam-se inteiramente ao trabalho e aos clientes.
Jamile e Simone, a serviçal, tinham grande afinidades entre si, conversavam muito, se entendiam bem nas obrigações domesticas
A harmonia na casa era total.
O casal não se interessava e nem tinha tempo para a vida social. Às horas de folgas, eram preenchidas pelos estudos, trocas de idéias, não raro se entretinham com os cuidados das flores e outras plantas da pequena propriedade. Faziam das obrigações e a dedicação entre sí o próprio lazer. Assim eram felizes, dentro dos próprio recursos.
Falavam e repetiam, somos felizes! nos amamos!

Capitulo IV

Ha quatro quilômetros do povoado, estendia-se a gigantesca
e rica propriedade do senhor Fabricio Di Santê. Homem poderoso, caprichoso, servido por inúmeros serviçais. Sua fazenda era formada por grandes pastos e rica agricultura. Vivia
numa mansão com muito conforto e luxo.
A mansão era cercada de lindos jardins e bosques. O que podemos dizer é que era algo de rara beleza e suntuosidade, revelando assim a riqueza e o poder do seu proprietário.
Fabricio era viuvo, tinha pouco mais de quarenta anos. Flavia sua filha única com quinze anos, estava totalmente desequilibrada emocionalmente. Sempre foi uma menina de comportamento um tanto difícil por causa de seu mau gênio. Com a morte da mãe, desequilibrou-se ainda mais.
A menina vivia aos cuidados do pai e de Sofia, uma dedicada governanta, que a conhecia desde o seu nascimento, por isso a amava e a considerava quase que como filha.
Os dois se esforçavam para dar-lhe tudo o que era preciso. Já haviam recorrido a vários médicos famosos e tratamentos caros em cidades grandes, mas tudo sem levar a um resultado positivo.
Flávia era linda, tinha um porte delicado, mas tinha uma fisionomia triste e até um tanto desfigurada. Se irritava com tudo, não conseguia estudar ou concentrar-se em qualquer responsabilidade.
Tinha constantes crises de nervos, dizia estar sempre com fortes dores inexplicáveis. Alem do que, sentia demais a falta da mãe, com quem viveu até os dez anos de idade.
Incansável e persistente, Fabricio teve a idéia de procurar o casal de médicos, e expor-lhes o problema da filha.
O casal era jovem, tinham vindo da Capital, quem sabe teriam novas técnicas que poderiam dar certo.
Trocou idéias com Sofia, e esta aprovou esperançosa. Falaram com Flávia e ela aceitou consulta-los.
Numa manhã cheia de sol, os três partiram em busca da solução para o problema que estava sendo tão doloroso e cansativo para eles.
No consultório, o casal os receberam com delicadeza e interesse, colocando-os inteiramente a vontade.
O consultório era um tanto simples, mas muito aconchegante, tinha alguns toques modernos e acolhedores. Tudo indicava bom gosto e singeleza, o que inspirava confiança.
Primeiro foi atendido o pai, que ansioso relatou toda a história da menina.
---Estou cansado de procurar a cura para minha filha. Ela é o que me restou do casamento infeliz. Tenho imenso amor por ela. Preciso vê-la curada. Isso é o que mais quero na vida.
--- Tenha calma e confiança senhor Fabricio. Vamos ver o que podemos fazer por ela. O que podemos lhe garantir é que será feito tudo o que estiver ao nosso alcance.
Fabricio encheu-se de esperança. Aquele casal tinha algo de especial, seus interesses giravam em torno do estudo da doença e da solução. Ficou bem claro para Fabricio que, o que menos os preocupava era a recompensa financeira. Isso demonstrava bem, o quanto eram diferentes dos outros médicos que conheciam.
Voltando a sala onde a menina se encontrava na companhia de Sofia, passaram a conversar com a menina.
---Deseja curar-se senhorita Flavia ? Interrogou Ricardo.
---Sim, mas, não consigo.
---Diga-nos o que sente ?
A menina aproveitou a oportunidade e desabafou chorando.
---Não gosto de ninguém, todos me cansam, por isso quero morrer para ir junto de minha mãe. Sinto muitas saudades dela. Tenho raiva de Deus porque a levou.
O casal deixou que a menina contasse tudo o que sentia, o que serviu de grande desabafo para ela. Na realidade, desabafar era o que ela mais necessitava.
Fabricio e Sofia, ficaram assustados e calados ao mesmo tempo. Nunca tinham presenciado tamanha espontaneidade da parte da menina. A segurança que esta sentiu nas atitudes dos médicos, a fez colocar para fora, todas as mágoas e revoltas normais de uma adolescente insatisfeita.
Após o desabafo Flávia respondeu a mais algumas perguntas e tranqüilizou-se mostrando assim estar aliviada.
---Responda-me agora senhorita Flávia, está disposta a aceitar a fazer um tratamento com a Doutora Jamile ?
---Sim, respondeu. Notava-se aí a simpatia pela médica e o interesse pelo tratamento.
Ficou combinado então que Jamile passaria algumas horas em companhia de Flavia. Passaria três tarde por semana.
Para isso, um serviçal do senhor Fabricio, se encarregaria de fazer o transporte da jovem senhora.
Assim, após breve acerto e em meio à troca de gentilezas despediram-se.
Nascia ali, uma nova e grande esperança para Fabrício e Sofia.
O casal passou o resto do dia estudando e trocando idéias sobre, que tratamento seria aplicado à menina.
Flávia não aparentava ter nada grave, precisava apenas de alguns medicamentos leves, muito diálogo e muita atenção. Estava claro que a menina precisava sentir a beleza da vida, precisava de companhia e de distração.
Jamile providenciaria tudo, na medida do possível.
E assim programaram, perguntas, pesquisas e diálogos para o início do tratamento.
Até aí tudo corria com serenidade e confiança.

Capitulo V

No dia e hora marcado, lá estava o cocheiro para cumprir o combinado. O percurso era curto e rapidamente chegaram à
rica fazenda.
A moça foi recebida com gentileza e carinho. Todos a esperavam com ansiedade.
Jamile não era apegada a bens terrenos, não se impressionava muito com grandezas materiais, mas, ao deparar com a exuberante mansão ficou encantada com a beleza e a riqueza da propriedade.
Pensou por instantes.
---Quantos segredos a vida nos oculta. Em meio a tanta exuberância, uma carência e uma tristeza tão grande.
Flávia estava em seu aposento, para onde Jamile foi conduzida gentilmente por Sofia. Atravessaram varandas, salas, corredores, para chegarem ao gracioso aposento. Flávia também estava impressionada e esperançosa, por isso sua fisionomia também já estava melhorada.
---Como está nossa menina ?
---Estou ansiosa, esperando pela senhora !
---Não prefere conversar no jardim, o dia está tão lindo.
---La fora se sentirá melhor.
--- Sim, claro a senhora é que manda.
As duas beldades dirigiram-se para o jardim e num banco confortável iniciaram o dialogo, tão importante para Flavia. Assim como continua a ser tão importante para qualquer solução entre as pessoas que convivem entre si. Algumas perguntas seguidas de respostas, colocações e desabafos. Assim, logo as duas passaram a se entender perfeitamente.
Flávia logo apegou-se a médica, facilitando assim, o relacionamento e consequentemente o tratamento, que logo começou a trazer resultados positivos.
Hoje temos a possibilidade de perceber que o caso era simples, embora, na época, parecesse ser tão complicado.
A esperança e a alegria passou a ser geral naquela pequena família. Tudo levava a crer que Flávia ia ficar boa, ia se tornar uma menina normal. Poderia fazer tudo o que as outras meninas da sua idade fazia.
A impressão geral era de que naquela casa, naqueles jardins e bosques, tudo se tornava mais bonito.
Fabricio prometia a ele mesmo, procurar colaborar com esse tratamento. A partir daí seria mais dócil com Flávia, mais paciente e compreensivo. se desdobraria para tratar sua médica e benfeitora, com todo respeito e afeto. Pagaria o quanto precisasse para que tudo desse certo. Sentia que tudo daria certo.
O tratamento era diferente dos demais já recebidos.
O casal lhe inspirava muita confiança e Flávia, também os acolheu com tanta simpatia.
Repetia constantemente.
---Se Deus quiser tudo dará certo. Passou até a tratar Sofia e os demais serviçais com mais carinho e consideração.
Flávia era muito querida pelos serviçais mais antigos e íntimos da casa, por ocasião da morte de sua mãe, todos ficaram penalizados por vela órfã tão cedo, por isso, todos queriam vê-la curada.

Capitulo VI

O senhor Fabricio Di Santê, era um homem muito poderoso, pela fortuna que possuía e logicamente pela posição que ocupava no seu ramo de negócios. Além disso, era muito orgulhoso e fechado para o mundo, preferia viver mais isolado da sociedade. No entanto, era carente de afeto, embora procurasse esconder de si próprio.
Sentia-se só, ficou viuvo muito cedo, sua mulher, Caterine ha cinco anos fora acometida de uma doença rara e incurável, morreu deixando-o com todos os seus conflitos emocionais.
Até aí ele não admitia ser uma pessoa carente, mesmo porque nunca se permitiu tais pensamentos. Fazia questão que todos soubessem de que ele não tinha problemas desse tipo.
Na linguagem de hoje, diríamos que ele era um machão recalcado.
Com a longa conversa que teve com o casal de médicos ficou um tanto impressionado. Aquele contato lhe fez bem.
Os argumentos lhe calaram fundo. Tudo levava a crer que sua vida mudaria daí para frente.
Aqui cabe uma observação: Se o casal de médicos tivessem sidos mais prudentes. Que no caso podemos dizer menos ingênuos. Teriam se aprofundado mais no caso e percebido que Fabricio também era uma pessoa doente e que precisava de uma assistência psicológica paralela a da filha. Enquanto Jamile cuidasse de Flávia, Ricardo deveria cuidar de Fabricio. Assim o tratamento seria completo porque ele também tinha distúrbios emocionais e precisava se libertar dos mesmos, ou pelo menos de parte deles.
Na época o assunto era pouco estudado, as experiências eram precárias. Alem do que o casal estava apenas começando as pesquisas. Aliás, o casal estava ainda fazendo tentativas. O conhecimento era muito pequeno.
Em pouco tempo de convivência, algo muito grave passou a acontecer.
Os distúrbios emocionais de Fabrício, o levaram a misturar os sentimentos. Pouco a pouco foi se sentindo atraído pelos predicados da jovem médica.
O espaço vazio que Fabricio não admitia existir em seu coração, começou a ser preenchido por aquele relacionamento de amizade tão fascinante para ele.
Sem perceber a gravidade, alheio às conseqüências, começou a observar, admirar e cobiçar as qualidades da jovem médica.
---Como ela era especial! dizia: bonita, inteligente, delicada, que esposa maravilhosa devia ser! Como o marido devia sentir-se feliz em tê-la como esposa.
No seu estado de inconsciência, passava todo o seu tempo com o pensamento voltado para a vida da moça.
Imaginava-se em sua companhia, conversando, sentia-se sendo observado por ela. Ensaiava palavras e gestos e até confessava suas necessidades e carência. Sua mente enferma dialogava com a moça, sem dar espaços a outros pensamentos.
Estava certo de que ela o compreenderia. Ela substituiria aquela insatisfação, que sabemos, tudo não passava de uma grande solidão.
Aqueles gestos e palavras, tão nobres, era exatamente do que ele precisava para se sentir feliz e para se completar.
Mentalmente via-se passeando com a moça pelos seus bosques e jardins, que agora eram tão lindos e aconchegantes. Esses agora tinham muito mais valor. Tudo o que não via antes, passou a ver e admirar agora.
A princípio via-se passeando e conversando apenas. Depois passou a se sentir acariciado por ela. Assim divagava por horas seguidas.
Nós conhecemos o processo de sintonia vibratória. Com pensamentos tão profundos e persistentes, Fabricio entrava constantemente em sintonia, com entidades espirituais nas mesmas condições de carência. Com isso, seus desejos eram reforçados pelas mentes desencarnadas.
Cada vez se sentia e se colocava mais próximo, mais intimo da moça. Sentia que precisava cada vez mais de sua atenção.
Aquele rosto lindo, aquelas mãos delicadas, como queria tê-la com mais frequência em sua companhia.
Muitas vezes se surpreendeu pensando alto, trocando palavras de carinho com a moça.
Ao concluir o tratamento do dia, Fabricio, procurava conversar com a jovem médica. A acolhia em sua varanda, para o chazinho acompanhado dos petiscos providenciados carinhosamente por Sofia.
A conversa era agradável e elevada. A cada dia mais se convencia ---A moça era realmente nobre. Passou a observar minuciosamente os seus traços, os seus gestos e perguntava.
---Como uma criatura podia reunir tantos encantos, beleza e qualidade?
Jamile alem de ser muito bonita, vestia-se muito bem, seus cabelos loiros e cacheados eram muito bem cuidados. Realmente era uma mulher atraente.
Dentro de pouco tempo Fabricio passou a admitir que estava apaixonado pela moça.
Tinha consciência da gravidade. Por isso, nos momentos de maior lucidez pensava:
---Como pode isso me acontecer? Não era eu um homem tão íntegro? Tão sensato?
---Como me deixei me envolver por uma paixão? e ainda proibida? Chegava a se sentir desonesto e humilhado ao mesmo tempo. Via-se rastejante e sentia vergonha de si próprio.
---A moça é casada, dizia. Além disso, me vê apenas como um cliente. E como me respeita! Preciso lutar, mas, não estou conseguindo.
Realmente, tudo ficava muito difícil. A sintonia com as mentes espirituais se avolumavam a cada dia. A luta já não era só contra o seu desejo, mas tinha que lutar também, contra o desejo das companhias desencarnadas e estas quase o dominavam.
Para Fabricio se libertar a estas alturas, seria preciso um toque muito forte em sua consciência, algo que fosse marcante, para que com isso pudesse desperta-lo para a realidade, isto estava sendo quase impossível.

Pela vontade e esforço próprio, abrimos ou fechamos os canais de sintonia com o mundo espiritual, Sejam positivas ou negativas.
Fabricio acomodava-se, sentia prazer nessa paixão, por isso, ela se tornava agradável, ia preenchendo suas necessidade e se tornando cada vez mais incontrolável.
Procurando disfarçar a paixão, aquele homem que se antes se julgava tão forte, parecia agora um adolescente. ficava longo tempo a observar de longe em meio ao jardim ou no bosque, a maneira das duas conversarem, os gestos as gargalhadas, que naturalmente faziam parte do tratamento da filha com a médica. Seu desejo era estar junto fazendo parte das brincadeiras, inteirando-se dos assuntos que lhe pareciam tão agradáveis.
Repetia a si mesmo.
---Se Flavia entrosa-se e melhora a cada encontro com Jamile, porque esta não pode ser sua esposa?
Imaginava situações irreais e vivia em pensamento aquelas situações como se fossem reais.
Alimentava-se desses sonhos.

Cabe aqui, um detalhe muito importante quanto ao carater de Fabricio. Ele não era um aventureiro, um conquistador. Ele não queria um romance clandestino com a moça, sua honestidade não lhe permitia isso. Dentro dos seus sonhos de adolescente o que ele queria era Jamile como esposa, era ter uma vida séria e sincera com ela. Por ser rico e poderoso, achava natural conseguir tudo o que desejava. Não aceitava alguém com mais direitos que ele.
Por isso, não se conformava com a suposição de que a vida lhe tirava esse direito.
As indagações e a revolta foram aumentando. Pouco a pouco a tristeza e a angústia foram tomando conta de seu coração. Sentia-se contrariado, revoltado.
---De que me adianta ser um homem tão rico tão respeitado se não tenho o direito de ter o que mais quero na vida?
Aquela mulher que ele amava tanto pertencia a outro homem.
Um tanto desorientado tentou aproximar-se mais da moça, mas, temia. Poderia perde-la de vez.
---Está claro que se ela perceber meu sentimento certamente se afastará de mim.
---Ela ama o marido e eu sei disso, então preciso me conter
---Mas eu não suporto saber que ela ama outro homem. Ela pertence a outro homem!
Daí começou a ver Ricardo como obstáculo a sua felicidade. Sem dúvida aquele homem era o seu grande rival, pensava isso com sentimentos de ciúmes e um certo rancor.
Nesse ponto Fabricio abria uma nova ligação mental, começava a se deixar envolver não só por aquelas entidades carentes, sofredoras, mas também por forças negativas, que também eram doentes, porem ainda inclinadas para o mal.
Apesar de todos os seus pensamentos, do seu orgulho e conflitos íntimos, Fabricio era um homem honesto. Sempre

soube respeitar, a seu modo, à todas as pessoas. Primava pelas aparências. Ser moralista era a sua característica mais marcante. Era religioso. Fazia questão de que os empregados também o fossem. Para isto construiu e mantinha uma capela em sua propriedade.
Para os costumes e a moral da época o senhor Fabricio Di Santê, era um homem bom e normal.
Capitulo VII

O Dr. Ricardo de Ribeneau, sem suspeitar de nada felicitava a esposa pela capacidade e bom trabalho desempenhado no tratamento. Não tinham dúvidas, o método de trabalho adotado dava certo. As pesquisas, a dedicação ao trabalho frutificavam. Por isso se sentiam mais felizes e planejavam maiores avanços nas pesquisas.

Flávia se entendeu perfeitamente com Jamile. Já sorria, já estudava. A melhora era grande.
A notícia corria e com isso crescia também o prestígio do casal de médicos.
Na fazenda do senhor Fabrico Di Santê, também morava Rodante, um belo moço, primo de Fabricio. Era ainda bem jovem, forte, inteligente, um rapagão cobiçado pelas moças solteiras.
Tinha uma tendência grande e uma visão ampla para o comércio. Estudou na Capital, seus pais moravam numa província distante. Quando terminou os estudos, foi convidado pelo primo para trabalhar com ele nos negócios da fazenda. O motivo era que, ali perto da capital teria mais oportunidade dentro do comércio. Para Fabricio também seria interessante, ampliar e dar expansão aos seus negócios.
Por ser livre e muito capaz, fazia todas as negociações externas da empresa. Viviam harmoniosamente, conversavam muito sobre todos os assuntos.
Era comum, Rodante revelar em tom de brincadeira, suas aventuras com a mulheres que o cortejavam.
Rodante viajava muito, mas, nos dias que ficava na fazenda tinha oportunidade de admirar e até de se sentir atraído pelos encantos da jovem senhora. Sempre que tinha oportunidade, na hora do costumeiro chazinho, dirigia-se a ela com palavras gentis e com muita elegância. Gostava de comentar os acontecimentos da capital, onde Jamile nasceu e viveu a infância e a adolescência. Por isso respeitosamente, ela se interessava pelos comentários.
Fabricio os observava. O seu desejo era de afastar todo e qualquer homem que pudesse ser observado pela moça. Pois ela era a mulher que ele amava e desejava.
O senhor Fabricio era um homem ciumento e possessivo, só Deus sabia do seu sofrimento ao ver a jovem dar atenção às conversações do primo, apesar de reconhecer a seriedade da
Mesma. Não suportava pensar que ela pertencia ao marido.

Preocupava-se com isso, a cada minuto de sua vida. Assim mil e uma coisa passavam-lhe pela sua cabeça. Entre elas a possibilidade de Jamile tornar-se viuva, como ele.

Induzido pela mente enferma e reforçado pelas companhias espirituais negativas, não menos enfermas, passou a pensar: E se alguém desse fim no marido dela ? E porque não também no primo? Este era mais jovem que ele e mais instruído, estava a par de tudo o que era moderno, na maneira de se apresentar e até de se vestir. Por isso podia passar-lhe para traz.
Por mais que Fabricio quisesse se ver livre dessa idéia terrível, a mesma voltava constantemente a mente.
Tenho meus homens de confiança, nenhum me negará esse serviço, desde que sejam bem pagos. E nem me trairão, Pois, isso é tão comum acontecer.
Falava com ele mesmo.
---Os empregados fazem o que o seu patrão manda, e eu sou o patrão.
---Sou rico, poderoso e respeitado, tenho todos os direitos.
A saudade da esposa, a doença da filha, os trabalhos da fazenda, não lhes preocupavam mais. Tudo dava lugar a essa paixão violenta.
Aparentemente, tudo corria de maneira normal, ninguém suspeitava de nada, apenas notavam a sua ausência.
Desde que Fabricio conheceu Jamile, passou a se isolar das responsabilidades, das rodas de conversas, preferia estar só para pensar e sonhar. Com isso a idéia foi fermentando em seu cérebro. A cada dia crescia os argumentos, as justificativas, para sua trágica intenção, que foi rapidamente avolumando-se.
Flávia continuava a melhorar. Porém muito apegada à benfeitora. A ausência da mãe, fora compensada pela presença e a convivência com Jamile.
Tudo era motivo para reforças a idéia de Fabricio, que pensava:
--- Como ficaria Flávia, caso precisasse separar-se da médica? Certamente voltaria no que era antes.
---Como ele iria se sentir no dia em que Jamile lhe dissesse que o tratamento estava concluído? Sabia que a uma hora qualquer isso poderia acontecer. E não suportava a idéia de perde-la.
Apesar de vez ou outra, entrar em sã consciência e sentir o absurdo que era essa idéia, porém não conseguia supera-la assim, continuava achando que estar junto a Jamile era a única e

mais acertada forma de solucionar o seu problema e o da filha.
Sua fraqueza o dominava, vencia a todo e qualquer argumento contrario.
Um dia enquanto a menina e a jovem se entendiam no jardim,
Fabricio ouviu a confissão de Rodante, dizendo da forte atração que a moça exercia sobre ele. Assustado e conhecendo as qualidades de galanteador do primo, reagiu com energia. Não podia permitir que isso acontecesse dentro de sua casa, pois a moça era casada a quem deviam muito respeito. Defendeu o moral da moça com severidade e exagero.
O primo surpreendeu-se com a reação tão violenta, porém, prometeu guardar respeito e justificando-se disse:
---Não se preocupe meu primo, conheço bem qual o terreno que posso pisar, a minha qualidade de conquistador, não vai tão longe assim.
---Sou consciente da idoneidade da moça. Não é minha intenção faltar-lhe com o respeito em momento algum. Sei que a atenção que a mesma me dispensa, é pura amizade e educação reconheço suas qualidade de mulher e esposa.
O moço ficou um tanto desapontado e desconfiado.
---Porque aquela irritação? Aquele nervosismo todo ?
---O que estaria acontecendo? Estaria Fabricio lhe escondendo alguma coisa? mas, o que? Prometeu a si mesmo ser mais cauteloso e observar.
Fabricio estava a cada dia mais aflito. Aquele amor transformava-se em doença grave.
Depois da confissão do primo, sentia que já não queria esquece-la. Estava totalmente dominado. Sabia que de maneira alguma conseguiria esquece-la. Assumiu de vez. O que ele queria realmente agora era tê-la para sempre.
A partir desse momento, passou a prometer e repetir:
---Se isso acontecer, serei o melhor e o maior marido do mundo. Dizia isso convencido de que, cumprindo essa promessa poderia compensar todo e qualquer absurdo, cometido no momento.

A idéia o atormentava e a angústia crescia a cada dia. Pois alem do empecilho que era o marido, perdeu totalmente o sossego com relação ao primo.

CAPITULO VIII

Enquanto Fabricio se debatia atormentado pela
angústia a clientela do casal De Rubeneau aumentava, já
vinha doentes de outras cidades algumas até distantes,
atraídos pela fama do casal estes se desdobravam em dar
bom atendimento e estudar todos os casos minuciosamente
Realmente os problemas emocionais exerciam uma
influência muito grande nas muitas vezes supostas, doenças
físicas.
A possibilidade de um diálogo dirigido, dando oportunidade a um desabafo. A compreensão e paciência em
ouvir facilitava demais a cura.
O progresso e o sucesso do casal estava caminhando
a passos largos.
Hoje já se tornou fácil entender esse sucesso. Sabe-
mos que grande parte dos doentes precisam apenas de
atenção e compreensão. O diálogo valorizado pelo profissional é de suma importância para o doente.
Um dia Fabricio atormentado, resolveu consultar um
de seus capatazes. O que lhe parecia mais frio, por isso,
lhe inspirava maior confiança.
Chamou Antero e falou:
---Quero ter uma conversa com você. ---estou pre-
cisando dos seus serviços.
Foi atendido prontamente pelo serviçal, e caminhando
para um lugar seguro, iniciaram a conversa.
---Você sabe que nunca lhe neguei nenhum favor, tirei
você da miséria, dei-lhe casa, comida e trabalho, lembra-se?
---Lembro-me sim senhor, nunca vou esquecer o bem
que recebi.
---Nunca te pedi nada em troca.
---não senhor.
---tenho você entre as pessoas de maior confiança em
minha fazenda.
---Fico muito contente senhor.
---Estou precisando de um trabalho muito importante para
mim e que exige muita sinceridade e sigilo de tua parte.
---Está disposto a me servir? Se fizer direitinho será
bem recompensado.
---Pode dizer senhor.
---Tenho que me livrar de duas pessoas que estão me
oferecendo perigo no momento. E assim inventou justificativa para o pedido.
Antero era um homem rude, sem o menor sentimento de piedade. Era movido e alimentado apenas pelo instinto. Já
havia praticado outros crimes em outros lugares, em outros
tempos.
Ouviu atentamente o relato do patrão, a quem real-
mente devia muitos favores, por isso o respeitava muito.
A principio estranhou a atitude, o pedido do patrão,
mas, acabou achando normal e aprovou a idéia.
---Farei o que o patrão quiser sem deixar que ninguém
perceba, terei o maior prazer em poder servi-lo. Pode con-
fiar em mim, senhor, serei fiel até a morte.
Após alguns entendimentos afirmou:
---Estarei aqui apenas aguardando as suas ordens para
executar o serviço.
Nota-se aí a pobreza de sentimentos e o egoísmo dos
dos dois homens. Estavam longe de pensar no sofrimento
que iriam causar a pobre moça, e mais, com que direito
destruir três vidas, duas delas tão úteis a sociedade?
quantos doentes dependentes do casal, ficariam privados
dos seus cuidados médicos, que carreiras brilhantes e
úteis estariam interrompendo. Rodante, também tinha uma
família que certamente iria sofrer muito com o acontecimento
Nenhum nem outro tinham condições de perceber e compreender tais sofrimentos.
Quem responderiam por todos esses sofrimentos?
Juntara-se ai, dois espíritos inconscientes, dois
corações endurecidos ainda. O primeiro pelo egoísmo principalmente pela cega paixão. O segundo pela ambição
e o instinto primitivo.
Ai surge a pergunta: Isto acontece por maldade dessas
pessoas?
Não. Deus nos criou simples e ignorantes com a consciência adormecida. Porém com todas as qualidades a
serem desenvolvidas. A vivência vai nos tornando conscientes, porque vamos aprendendo e com isso vamos nos
completando.
A doença que nos referimos de Fabricio nada mais
era que um estado de inconsciência, que só desperta
a medida que o espírito vai amadurecendo.
Fabricio estava dominado pela paixão Po ser pouco
amadurecido, não conseguia dominar. Podemos dizer
que o instinto ainda falava mais alto que a razão.
Antero, naturalmente, tinha uma caminhada maior
pela frente, nota-se que ainda era um espírito um tanto
selvagem, por isso sem o menor sentimento de piedade,
de humanidade. Portanto, Infantil ainda, necessitando de
muitas experiências para amadurecer.
A vida reuniu essas pessoas, vítimas e algoses, para que somando as necessidades e as deficiências de cada
um pudesse haver os acertos e os regates. Não vamos nos esquecer de que, Deus cura o homem pelo homem
Se as vítimas não tivessem um carma nesse sentido,
a vida não os teria reunido.
É assim que vamos nos burilando, até um dia chegarmos
à consciências plena.


CAPITULO IX

Passaram-se alguns dias, aparentemente na maior
tranquilidade.
Uma tarde Rodante Di Santê apareceu morto na
estrada com um tiro no peito. A notícia abalou a todos
os empregados da fazenda. O moço era respeitado e até
estimado no meio em que vivia. Como os crimes aconteciam
com frequencia, eram comuns nas estradas, Ninguém suspeitou da verdade
Os argumentos eram de que poderia ter sido assaltado
ou atingido por algum desafeto. Depois de alguns dias tudo
estava justificado, e as investigações foram encerradas.
Fabricio se mostrava muito angustiado, não conseguia, disfarçar mas, todos, inclusive a família, achavam que era por causa da morte do primo. A final os dois eram tão amigos, e
se relacionavam tão bem. Viviam na mesma casa e muito
tempo. Era normal que isso o abalasse tanto e lhe provocasse
essa angústia.
Seria bom se Fabricio tomasse esse clima de tristeza
E ansiedade como experiência, em tempo de cair na
realidade e desistir da idéia sinistra, amenizando assim seu comprometimento com a espiritualidade, mas, a paixão doentia
falava mais alto, além do que a ligação com o mundo espiritual negativo já era muito forte.
Por isso, reforçado e apoiado também pelas mentes enfermas, que o acompanhavam, deixou que tudo prosseguisse e se
consumasse.
Assim chegou a vez do Dr. Ricardo de Ribeneau.
O capataz, passou a observar a movimentação do
jovem médico. Seguia-o sem ser notado. Observou que
o mesmo saia algumas vezes em seu cavalo para algumas visitas aos clientes.
Preparou uma tocaia e na volta de uma visita a uma
fazenda próxima da cidade, o acertou com um tiro perfeito
O moço rolou do cavalo já sem vida. Antero o arras-
tou para dentro do mato, onde já havia cavado uma vala
E o enterrou. Em seguida deu fim também no cavalo.
Procurou se livrar de todo e qualquer vestígio que
pudesse compromete-lo. Ficou seguro de que ninguém
desconfiaria de nada.
Com a consciência tranquila do dever cumprido,
voltou para casa como se nada tivesse acontecido.
Passou as informações com todos os detalhes ao
patrão.
O nervosismo de Fabricio foi grande, quase teve uma
crise de nervos. Lutou muito para controlar-se.
Caminhou alguns passos e avistou Jamile, que estava
como de costume tão envolvida com Flavia!
---Pobre moça, não pode neste instante imaginar o
que lhe espera, estava tão inocente ignorando a tudo.
Por um instante sentiu-se um monstro. Sem dar
conta de si, sentiu uma forte repulsa por Antero.
Teve vontade de correr, se ajoelhar aos pés da moça
e pedir-lhe perdão. Queria dizer-lhe do seu amor, jus-
tificar todo e qualquer erro de sua parte, desejava ofe-
recer-lhe amparo, carinho, e tudo que fosse necessário
para que ela não sofresse.
Controlou-se, agora era tarde para qualquer atitude
de arrependimento. Não podia precipitar.
Recolheu-se em seu quarto e procurou justificar-se
pelas atitudes anormais do momento.
Atirou-se sobre a cama e pôs-se a pensar:
---Porque tanto desespero? A final tudo estava
acontecendo de acordo com o que planejara. Restava-lhe
agora esperar.
---Agora ela é livre tanto quanto eu. Vou lutar com
todas as minhas forças para conquista-la.
---Vou ajuda-la. Ela terá tudo o que for necessário.
---Vou protege-la de tudo e de todos.
Não saiu dos seus aposentos, para despedir-se e saborear o gostoso chasinho, na companhia de Jamile como era de costume.
Alegou estar com muitas dores de cabeça.
Sofia fez às suas vezes, pedindo desculpas à moça.
A partir desse momento, o único recurso que encon-
trava para acalmar-se, era fazer planos para a nova vida,
junto da mulher amada.

CAPITULO X

Ao voltar para casa, a moça notou a ausência do marido, mas, sabia de suas visitas a clientes, por isso esperou
como de costume. Simone só sabia que seu patrão havia
saído em seu cavalo ,para atender a um cliente, não sabia quem nem onde mora, mas estava com um mau pressentimento, alguma coisa a deixava triste. Sentia que algum mal estava para
acontecer. Não falou a Jamile. Procurava convencer-se de
que aquilo não passava de um mal estar apenas.
As horas se passavam e nada do médico voltar.
As duas mulheres preocupadas, procuravam arranjar
justificativas para demora.
---O cliente deve estar passando mal. É natural que o
médico permaneça a seu lado, comentava. Mas, perguntava
a si mesma.
---Será que meu amor está em situação difícil? Teria
acontecido algum acidente com ele?
Assim passou-se aquela noite, o outro dia, e, outro sem
mudar a situação.
Jamile e Simone, trocavam idéias, e procuravam consolar uma a outra.
Algumas vezes a moça chegava a pensar, será que ele
me abandonou ? mas, diz que me ama tanto!
Naquela noite Fabrício não dormiu, ficou pensando no
que podia estar acontecendo com sua amada. Andou pela
casa a noite toda, sempre alegando forte dor de cabeça.
No dia seguinte pensou em procura-la. Mas, com que
Pretexto? Poderia despertar desconfiança. Foram dois dias de tortura e desconforto também para ele
No dia do tratamento alegando ter algo a fazer na
cidade, foi junto com o cocheiro buscar Jamile.
Encontrou a moça fortemente abatida sem condições
de trabalho. Inteirou-se do que se passava. Soube disfarçar
direitinho. Colocou-se a inteira disposição para ajudar no
que fosse preciso. Foi amavelmente reconhecido e agra-
decido pelas duas senhoras.
Jamile não teve condições de ir a fazenda, pediu desculpas e permaneceu em seu lar, esperando que alguma
coisa acontecesse para mudar a situação. Quem sabe o
marido pudesse aparecer ?
O homem demonstrou compreensão, despediu-se,
deixando claro que estava a disposição para qualquer
colaboração.
A tristeza, agora unida ao remorso, o torturava mais
Ainda.
A partir daí, todos os dias passava pela casa da moça
para saber notícias e oferecer seus préstimos.
O sentimento de culpa, agora era seu maior inimigo.

CAPITULO XI

Com o passar dos dias a notícia correu e surgiram muitos
comentários sobre desaparecimento de Ricardo, mas, nada
levou a verdade.
As conclusões maliciosas eram de que o moço havia
fugido aos compromissos assumidos com a moça.
Teria outro amor? Outras ilusões? Quem sabe !
A realidade agora era que a moça estava só e abandonada.
Não tinha forças e nem condições de prosseguir o
trabalho sozinha. Além disso, pensava:
---Quem daria crédito a uma pobre mulher abandonada
pelo marido ?
Os clientes desorientados, dispersaram-se sem muitas
Satisfações.
Naquela época, grande parte das mulheres eram educadas dentro das próprias casas por professores contratados pelas famílias. Ela era uma mulher que se propôs a
estudar em uma faculdade. Isso era considerado um grande
atrevimento. Por isso, sozinha seria desacreditada pela
sociedade,
O direito de ter uma profissão fora do lar era reservado
para os homens. Certamente grande parte da sociedade a
considerava uma mulher vulgar.
Sentiu que a previsão dos pais dera certo. Chegou a hora de arrepender-se de ter feito tal escolha.
Quem sabe Ricardo, também a considerava vulgar. Até
aqui estaria iludido por um amor infantil? Ou tirando proveito
da sua ingenuidade?
Voltar sozinha para a cidade grande seria muito arriscado. Estava triste caída, não tinha forças para enfrentar
os desafios do preconceito. Sentia-se culpada pela situação tão difícil que enfrentava.
A família do marido, também não a aceitaria e certamente a condenariam pelo acontecido. Por isso, não poderia procurar
por eles.
---Não tenho dúvidas pensava, estou pagando pelo meu
atrevimento.
Aquela moça corajosa que lutou com uma sociedade
defendendo seus direitos, hoje estava vencida pela dor de
perder o grande amor de sua vida.
As vezes reconsiderava e concluía que Ricardo não
faria isso por vontade própria, mas, o que teria acontecido.
Se estivesse morto seu corpo teria aparecido. Para visitar
cliente, não iria longe sem avisa-la.
Tudo levava a crer que ele a abandonara mesmo.
A lembrança e a tristeza a liquidava dia a dia.
Simone, tentava ajuda-la com palavras consoladoras,
mas tudo era quase inútil.
Diante de tantas dificuldades e incertezas, Jamile não
sabia como agir. Não sabia prosseguir.
Toda a sua altivez a sua vivacidade e toda a sua coragem caíram por terra. Estava vencida mesmo.
Flavia diante de tantos acontecimentos, teve uma forte
recaída. Voltou a sentir as dores, a ter as mesmas crises, o
mesmo temperamento.
A interrupção precipitada do tratamento à afetou muito.
Fabricio não deixou de visita-la um só dia. Insistia para
que liquidasse seus pertences na cidade e fosse morar em sua
fazenda. Daría-lhe amparo para o resto da vida. Poderia
levar Simone com sigo. Tinha poderes de sobra para lhes
dar tudo o que precisassem.
A moça tentava alimentar a idéia e a esperança de que
o marido voltaria.
Quem sabe se arrependa. Quem sabe passe a sentir
saudades.
Mas o tempo passava e nada acontecia de diferente.
As buscas junto as autoridades, também foram inúteis e
dadas por encerrado.
Por fim, em meio a tantas incertezas e insegurança,
concluiu que não lhe restava outra saída.
Acabou aceitando a proposta insistente do suposto
benfeitor.
Desfez-se de tudo o que pode e foi morar na fazenda.
Levou Simone, que se tornou sua maior amiga e confidente. Fabricio, passou a sentir-se quase realizado.
Em sua mansão ofereceu-lhes confortável dependência, passou a desdobrar-se em servi-la. Porém o remorso o torturava. Cada vez que a via chorando, sentia o peso da culpa.
Por horas e horas, Jamile ficava confabulando e chorando apoiada no ombro amigo de Simone.

CAPITULO XII

O tratamento de Flavia foi reiniciado e vagarosamente
Foi se tornando novamente eficiente, o que já alegrava a
todos.
A médica conseguiu, na medida do possível se recom-
por. Embora em sua mente permanecia a indagação: Onde
ele estará ? Qual foi a minha falha para afasta-lo de mim?
Vou encontra-lo um dia? Vivia das lembranças e da saudade.
Lembrava e comentava a fase do namoro, da faculdade
Em seguida a festa de casamento e as promessas de amor.
Tudo era motivo para tristeza e lágrimas.
Fabricio que havia sido tão audacioso, pondo em prática seu plano tão cruel, agora se acovardava diante dos sofrimentos da moça. Mas, nada podia fazer a não ser sentir-se culpado e sofrer também.
Em várias ocasiões Fabricio chegou a se arrepender.
Percebia que jamais a teria em seus braços.
Sentia que seu plano fora um fracasso. Não sabia como
Agir.
De repente começou a sentir que algo através das palavras de Simone o iluminava, alertando para remediar o erro tão grave.
---Precisamos fazer alguma coisa para distraí-la e alegrá-la. Temos que tira-la desta situação tão desagradáve e ai pensava:
---Situação que eu mesmo provoquei.
Podemos proporcionar-lhe distrações.
Planejaram passeios pelas cidades vizinhas, cavalgadas
pelos arredores, e porque não, até nos fins de semana um espetáculo de teatro na capital, que era tão perto.
Jamile não aceitava, se recusava a qualquer convite. Não tinha vontade, além disso não poderia expor-se aos comentários maldosos que certamente surgiriam. Mas, Fabricio justificava, dizendo que sendo na de Flavia e Simone nada estaria errado.
Poderiam levar também Sofia, que era uma pessoa muito
Íntima da família e certamente iria impor respeito perante a vizinhança.
Pouco a pouco, foram convencendo Jamile, mesmo porque
Flavia se interessava e precisava divertir-se.
Assim, foi tornando-se comum, nos fins de semana um
passeio, um programa à cidade. Ou mesmo uma cavalgada
durante a semana, nos dias ensolarados.
Jamile, apesar de presa ao passado já conseguia se
distrair, sentia-se satisfeita em ver Flavia, Simone e até
Sofia entusiasmarem-se com os divertimentos.
Com isso, a paz e a esperança começou a penetrar o
coração de Fabricio.
O sofrimento, a grande experiência o abateram muito.
O senhor Fabricio Di Santê, já não era aquele homem tão orgulhoso, tão caprichoso, senhor de todas as coisas com todos os direitos como se sentia antes. A sua audácia foi muito grande, por isso, a experiência foi dolorosa nas suas consequências. Fabricio já se curvava perante as próprias fraquezas.
As consequências dos próprios erros, o colocavam dentro da realidade da vida. Na verdade aqueles sofrimentos tão grande o tornaram mais maduro, mais homem.

CAPITULO XVIII

Ricardo não demorou muito tempo para despertar do outro
lado da vida. Tomou conhecimento da situação, certificou-se sobre os detalhes do que havia acontecido.
A princípio ficou muito triste e bastante revoltado.
Sentiu-se vítima, sofreu muito. Depois passou a se condenar. Como não previu essa possibilidade? Como pode entregar a esposa tão inocente ao convívio de um homem tão doente e perigoso? Que fracasso! Quantas coisas tinha ainda a aprender antes de por em prática os seus anseios.
Com muita ajuda dos amigos espirituais, entendeu a realidade. Fabricio fora apenas um instrumento que entrou em sua vida para fazer cumprir o seu próprio carma,adquirido em vidas passadas. Com muito esforço e ajuda dos amigos espirituais, fortaleceu-se, por algum tempo se preparou.
O remedio agora era vir a terra para ajudar a mulher amada e o desafeto, que estavam tão necessitados.
Como já dissemos em capitulo anterior, “Deus cura o homem pelo homem”. Ricardo tinha o carma e precisava resgata-lo, Fabricio tinha a fraqueza, a tendência e como era uma pessoa muito orgulhosa somente com a experiência poderia aprender. A lei de ação e reação, os aproximou para
que tudo se cumprisse e consequentemente os dois se tornassem mais evoluídos.
Cabe aqui uma observação:
O que fez Fabricio evoluir, não foi o crime, mas sim o
sofrimento em consequência do crime, para o qual ele tinha tendência. O sofrimento pelo qual passou o fez reconhecer o erro e lhe deu oportunidade de cair na realidade e se arrepender.
isso resultou num aprendizado a mais o que lhe fortaleceu,levando-o a uma posição de humildade, possibilitando assim uma abertura para receber a ajuda do plano espiritual e redimir-se.
Muitas vezes Ricardo ajudou Fabricio a sair das angustias e a esquecer por instantes o remorso.

CAPITULO XIV

Um dia Fabricio encheu-se de coragem, aproximou-se
e propôs a Jamile uma união conjugal.
---A final, disse ele passaram-se três anos e o marido não voltou.
Certamente acertou-se em outra vida, em outra companhia. Não voltaria mais.
---A senhora é tão moça e com tantas qualidades, poderá tentar buscar novamente a felicidade. Eu estou disposto a faze-la feliz porque a amo muito.
Jamile já havia percebido esse interesse. Ela também tinha uma forte simpatia pelo benfeitor. Além disso devia-lhe tanta gratidão. Se não fosse ele a acolhe-la em momento tão difícil por que passava. Como estaria agora?
Ele era bom, a respeitava muito. Tinha apenas doze anos mais que ela. Era simpático, gentil e até bastante atraente. Seus quarenta e cinco anos de idade, cabelos levemente grisalhos, lhe dava um charme especial. Aquela aparência madura lhe transmitia segurança e até lhe atraia
fisicamente.
Pensou: ---Seria dois corações solitários e tristes a se ajustarem. ---Até que poderiam se completar.
Sentiu que a vida não estava perdida de vez. Poderia tentar a felicidade de novo embora ainda amasse o marido.
Mas além disso tudo, existia Flavia que ela aprendera a amar como filha.
A situação oferecia realmente oportunidade de uma união digna. Mesmo numa situação ilegal. Pois Jamile continuava casada porque nada comprovava a morte do marido.
---De que me adiantou a legalização da primeira união
se Ricardo não soube considerar e me abandonou?
Pediu tempo para pensar.
---Perdoa-me senhor Fabricio. É muito sério o que me
propõe. Estou muito confusa, não esperava por isso, dê-me
uns dias para pensar?
---Claro disse ele, a senhora tem o direito de ficar totalmente a vontade!
E com uma expressão muito amorosa e gentil disse:
---Vou esperar ansioso pela sua resposta !
Trocaram um olhar indagador e se afastaram um do outro com o coração transbordando de emoção, Jamile correu em direção à amiga, dizendo:
---Simone, Simone pare com tudo e me ouve por favor. O que tenho a lhe dizer e importantíssimo.
Assim cheia de entusiasmo relatou tudo à grande amiga.
Simone exultou de alegria. Que ótimo !
Essa tristeza constante da minha querida amiga me deixa
triste também e muito preocupada.
Essa é a melhor coisa que pode estar acontecendo no
momento. Achou a idéia fabulosa e assim a incentivou a aceitar.
---Quantas obrigações devemos nós à esse homem tão bom. É hora de retribuir-lhe, fazendo-o feliz. Além do que você vai aprender ama-lo também e certamente esquecerá o passado tão triste.
Após dois dias de indecisão e muitas considerações, Jamile resolveu aceitar a proposta.
---A final de contas, não serão alguns papeis que irão impedir a nossa felicidade.
---Quanto a Ricardo, farei de tudo para esquece-lo. Assim como ele também deve ter me esquecido.
Numa manhã, caprichou nos cuidados com a aparência, procurou o Senhor Fabricio Di Santê e deu-lhe a notícia tão esperada por ele.
--- Fiquei comovida e orgulhosa com a sua proposta, confesso que também tenho forte simpatia pelo senhor, aceito o seu pedido e farei tudo o que estiver ao meu alcance para faze-lo feliz também.
A felicidade deste foi tanta, que chegou a chorar de emoção.
Imaginem aquele homem tão orgulhoso de outros tempos, agora chega a chorar na frente de uma mulher como estava mudado.
Podemos imaginar como a felicidade de Fabricio seria completa se não existisse o sentimento de culpa, por traz de tudo isso !
Num impulso beijou-lhe as mãos, beijou-lhe o rosto agradeceu pela decisão. Prometeu fazer-lhe a mulher mais feliz do mundo.
Apressou-se em dar a notícia à Flavia e a Sofia.
As duas receberam a notícia com muita alegria e felicidade, pois a moça era muito especial e Fabricio era muito só e bom. Os dois mereciam ser felizes.
A notícia foi passada também aos parentes, amigos e aos serviçais. Todos aprovaram com satisfação.
Marcaram uma data, prepararam uma festa íntima e a união se consumou.
Na fazenda todos haviam aprendido a gostar de Jamile e Simone pela bondade e simpatia das duas, por isso a alegria foi geral.
Mais uma vez aqueles pastos, bosques e jardins se tornaram mais bonitos, mais alegres e cheios de vida aos olhos de todos.
Em pouco tempo Fabricio se tornou o melhor esposo do mundo, como prometeu.
Agradava a esposa, elogiava-lhe pelos menores gestos e não raro a presenteava com jóias e objetos caríssimos.
A moça era tratada por ele como se fosse uma verdadeira rainha, embora ele percebesse que a tristeza e as lembranças nunca a abandonara, agora um tanto amena.
Fabricio sabia que mesmo depois da união dos dois em momentos esporádicos, a esposa vencida pela tristeza, desabafava e chorava no ombro da amiga Simone.
Fingia não perceber, precisava aceitar a situação, estava consciente de que não tinha o direito de reclamar.
Mesmo assim estava satisfeito, porque a amava demais
A vontade dos dois era de terem um filho. Tanto ele como Simone achavam que o filho traria alegria ao casal, que era justamente o que lhes faltava. Para Jamile pelas lembranças, para Fabricio pelo sentimento de culpa e pelos ciúmes. Mas, Jamile era estéril e não podia conceber. Naturalmente em consequência de comprometimentos adquiridos em vidas
passadas.
Numa vida anterior, a mesma desprezou o dever e a sublimidade de ser mãe. Lesou o próprio corpo o que repercutiu no perispírito, e consequentemente no coro atual.
Mesmo com os contratempos os dois viviam bem. Se compreendiam, se respeitavam e se ajudavam entre si.
O grande e orgulhoso senhor Fabricio Di Santê, teve a oportunidade de cair na realidade, reconhecer seu grande erro e principalmente a sua grande fraqueza.
Amadureceu muito com o sofrimento. Conseguiu com isso melhorar seus sentimentos. Passou a olhar seus semelhantes, inclusive seus empregados com mais fraternidade.
Entendeu melhor sua real necessidade.
Jamile já não era para ele aquela visão fora da realidade que o levava a loucura, mas, sim uma mulher, a esposa verdadeira que o completava.
Aquela paixão desequilibrada estava agora transformada em amor.
O espaço vazio em seu coração que havia sido ocupado por tantas inquietações e até por infantilidade, agora dava lugar para o amor real, um amor sincero com consciência e com humildade.
Fabricio já não era aquele homem prepotente que se considerava senhor de todas as coisas, com todos os direitos e poderes. Já se reconhecia um homem comum com falhas e fraquezas.
Essa transformação íntima, facilitou ainda mais a aproximação de Ricardo que nunca mais se afastou dos dois.
Passou a inspirar-lhes a prática da caridade, para que não perdesse a oportunidade de se reajustarem com a vida.
Muitas vezes, Fabricio sufocado pelo sentimento de culpa, por se sentir privilegiado com a esposa e com a família que havia conquistado, à custa de suas injustiças ia a capela, chorava e agradecia a Deus, e, ao mesmo tempo pedia perdãom pelo ato bárbaro cometido.
Nessas horas Ricardo aproveitava para inspirar-lhe melhores atitudes e a realizar mais obras em favor do próximo, Assim Fabricio acolheu muitas famílias em estado de miséria. Dava-lhes emprego e todo tipo de assistência não negava ajuda a ninguém que aparecesse em sua fazenda com alguma necessidade. Alimentava-os, custeava-lhes os tratamentos médicos que a própria esposa receitava.
A mudança, a reforma interior foi muito grande, não só para Fabricio, mas também para Jamile.
Desta forma conquistaram créditos a seu favor e com isso, Fabricio conseguiu amenizar muito seu carma.

Capitulo xv

O casal viveu juntos durante onze anos.
Nesse ínterim Flavia ficou curada, conseguiu estudar
um pouco e aos vinte anos conheceu um rapaz que pren-
deu seu coração. Namoraram e casaram. Tiveram três
filhos, com quem Fabricio teve a oportunidade de conviver por
algum tempo. Não precisamos comentar, quanto a alegria
que aquelas crianças trouxeram à aquela casa.
Aos cinquenta e seis anos de idade, numa manhã de forte sol,
Fabricio cavalgava pela sua propriedade, junto a um empregado.
Percorriam as divisas da fazenda.
Observava e dava ordens, sobre o trabalho que deveria
ser feito, quando inesperadamente foi atingido por um tiro
de espingarda, sem que ninguém visse de onde vinha. Caiu
do cavalo ainda com vida. Antes de perder os sentidos
lembrou da tocaia que eliminou Ricardo e também Rodante
Foi socorrido pelo empregado na medida do possível. Levado ao hospital Recebeu os tratamentos de acordo com os recursos da época. A bala alojou-se no pulmão. Por causa da distância e dificuldade no transporte, retardaram-se os primeiros socorros médicos.
Por isso, não houve tratamento que o salva-se.
Apesar de todos os cuidados, a infecção o venceu.
O senhor Fabricio Di Santê, partiu para o outro lado da
vida, levando consigo o grande segredo e o grande remorso.
Foram feitas várias investigações, mas, ninguém conseguiu descobrir que um homem que caçava fora de suas
terras ao avistar uma caça, disparou a arma, errou o alvo
e o acertou sem querer. Amedrontado fugiu enquanto Fabricio
era socorrido pelo empregado.
Podemos ver ai, que iniciava-se novo suposto mistério, e
dentro da lei de Ação e Reação cumpria-se, parte de um carma,
doloroso.
Jamile viveu ainda mais nove anos, dedicando-se a enteada e aos netos, que passaram a ocupar um lugar todo especial no seu
coração.
Durante esses nove, anos teve oportunidade de continuar
as obras que Fabricio iniciou e tanto se dedicou. Tratou de
muitas pessoas carentes, de pessoas sem recursos financeiros.
A propriedade do marido era muito grande tinha muitos
empregados. Constantemente se via procurada por um deles necessitando de assistência médica. Atendia a todos com apreço e carinho. Sabia compreender as dificuldades, os problemas, ampliou sua capacidade de dialogar, com isso Aprendeu muito, teve oportunidade de ajudar nas diversas formas.
Porém ela nunca esqueceu as indagações:
---Onde estará o meu grande amor?
---Por que me abandonou?
---Será que não me amava ?
---Estará vivo ou morto ?
---Um dia eu o encontrarei de novo?
---Quando ? onde?
---O que teria acontecido naquele dia ?
---Por que razão a vida me tirou o direito de ser feliz
com o marido que tanto amei? E com a profissão
que tanto almejei.
Na verdade, apesar de Jamile ser aparentemente uma pessoa
otimista e até risonha, no íntimo a tristeza tornou-se seu ponto
fraco e a saudade, nunca mais a abandonou.
Na realidade Jamile não foi feliz, nesta encarnação, mas teve oportunidade de realizar considerável progresso espiritual através
dos sofrimentos e dos trabalhos realizados.
Além disso por influência de Ricardo, Jamile teve acesso a alguns livros espiritas, pelos quais, se interessou.
Recebeu e passou muitos conhecimentos e muito conforto.
Isso a enriqueceu de valores e a preparou para a grande viagem ao mundo espiritual.
Quando encarnamos, caímos no esquecimento do passado. Passamos longo período de inconsciência para depois
retomarmos a responsabilidade e iniciarmos a caminhada de
reconstrução.
À medida que retomamos a consciência às obrigações
vão surgindo, e vamos realizando na medida do possível.
Gradativamente colocamos em prática o nosso livre arbítrio.
Agimos e respondemos pelas nossas ações, de acordo com
a conquista que já temos. Assim a vida na terra nos dá as
oportunidades que as vezes são cansativas e sacrificadas,
mas necessárias ao nosso progresso espiritual.
Aquilo que pudermos aproveitar, ficará fazendo parte da
Nossa bagagem, e servirá de reforço para as futuras encar-
nações.
São recursos que acumulamos a nosso favor para o
futuro.
Não importa quando e nem onde vamos usar esses
recursos. O que importa é que com eles estamos mais
enriquecidos de experiências e de valores. Eles passam a
fazer parte do nosso currículo de vivência.
O reencontro desses espíritos no plano espiritual foi
doloroso. As decepções e constrangimentos foram surprendentes e causaram muitos sofrimentos. Porém o amadurecimento através da vivência e da dor já os havia reforçado
e preparado até certo ponto para compreenderem e se per-
doarem.
Todos eram espíritos com grandes comprometimentos
adquiridos em vidas passadas. Alguns com mais, outros
com menos, mas, ninguém era inocente.
Após um período de adaptação e de conscientização todos
terão que fazer o treinamento para voltar à terra encarnados
para continuarem estes e outros reajustes.
Assim prosseguirão a evolução, pondo em prática a
reconstrução do que fora destruído.

Você leitor, que a esta altura está pensando:
Quantas desgraças! quantas tristezas! Esperava alguma
alegria no final e não aconteceu. Poderíamos pensar assim,
se só nos preocupássemos, ou só esperássemos pelas re-
galias que a vida na terra nos oferece. Mas, sabemos que
somos eternos e que estamos aqui para buscar o crescimen-
to espiritual. Estes espíritos cumpriram uma fase de reajus-
tes importantes e difíceis. Aprenderam muito com isso e
com isso, evoluíram muito. Estão nos transmitindo meios de
Aprendermos com suas experiências e nos tornarmos mais
fortes.
Não vivemos desgraças aqui encarnados, mas, sim
passamos por períodos de aprendizados difíceis e de repa-
rações. É justamente quando temos oportunidades de reve-
lar o que somos e assim, nos conhecermos melhor.
Desta forma colocamos em prática aquilo que já apren-
demos e já sabemos superar.
Além de tudo pensemos que a vida continua. Novas
encarnações virão e o aprendizado prossegue com novos
acontecimentos e novas experiências.

E daí, o que você acha? Vamos aguardar a continuação
com novos acontecimentos, na próxima encarnação desses
espíritos?
Como dissemos tudo indica que um novo livro virá, Até lá.
Consolava Jamile nas horas das lembranças e descon-
solos. Não era percebido por eles, mas Simone a boa amiga
recebia sem saber as inspirações de como agir para ajudar.
Simone foi sem dúvidas o anjo bom que viveu naquela
casa. Conseguiu através de sua sensibilidade dar muitos
conselhos e orientações, sem que ninguém soubesse ou
pudesse imaginar que era inspirada por Ricardo.
Quando deixamos o corpo físico, perdemos a consciên-
cia aqui e a readquirimos na espiritualidade. Lá com a
ajuda dos amigos espirituais vamos fazer uma revisão. É
como se fosse um balanço.
Tudo o que fizermos de bom ou de mal será aproveitado.
Tudo foi experiência umas agradáveis, que nos alegrarão e
nos darão algumas regalias. Outras desagradáveis que
podem nos causar tristezas e sofrimentos. Mas, todas servirão
para reforçar a base da caminhada evolutiva que não cessa.